terça-feira, 30 de junho de 2009

Crônica: Nada mais que um baile


Em momentos atônitos repletos de obrigações não se dar conta das pequenas coisas que a vida proporciona aos humanos é algo corriqueiro.
Vale descrever uma experiência vivida que muito me impressionou e chego a dizer que até alegrou-me. Entretanto, descreverei como simples espectadora.
Era um sábado de junho não muito invadido pelo frio. Numa cidadezinha próxima a capital havia um estabelecimento, no qual, frequentemente, cantores brincavam com notas musicais e expressavam emoções através de letras entoadas por suas vozes sob um ritmo frenético.
Tudo aconteceu num espaço pequeno abarrotado de cabeças que sacolejavam, como num processo de produção contínuo. Músicas de origem norte e nordestina, assim como eram seus visitantes, vazavam pelas frestas do portão de entrada.
Em sua maioria, pessoas experientes, diria de meia-idade, cansadas do ritmo acelerado das ocupações intermináveis e ininterruptas da semana, independente de seu ofício, buscavam pura e simplesmente a diversão.
Sorriam, bebiam e dançavam como se estivessem num baile de emoções avassaladoras como eram nos bailes antigos, onde princesas dançavam nos luxuosos castelos da Idade Média.
Mesmo por poucas horas, para eles valia a pena gastar alguns trocados para verem alguns colegas de baile, dançarem com companheiras apenas algumas músicas e trocarem palavras com aqueles que se deleitavam da mesma diversão da noite.
Cavalheiros convidavam as damas para uma dança e outros apenas observavam, com um olhar libertino, o sacolejar daquelas mais extrovertidas. E o baile ia até altas horas.
Entorpecidos pelo álcool relaxavam ao tragar um cigarro e voavam ao som da música que saia do teclado, todos, sem exceção deixavam-se levar por aquele momento. Para eles, se a vida terminasse ali tudo acabaria bem, pois aproveitaram os últimos momentos.
Enfim, o que vale contar é que aquele baile, cujos cantores tinham o compromisso de animar o público com suas canções, era uma fuga do cansaço, das dificuldades, dos desencontros e discórdias de uma semana árdua para aqueles que têm pouco e vivem de um trabalho que exige muitos esforços.
Um momento de vazão, de clamor a vida e de manifestações em busca de uma alegria momentânea, da satisfação sonhada, e da sensação de cada dever cumprido, com suor e honra.
Era este o contexto vivido por aqueles que fizeram daquele momento, daquele baile, o maior de todos, pois foi naquele pequeno espaço escasso de luxo que aquelas pessoas deixaram-se levar pela alegria.